Política

Portugal sai à defesa do Eixo Atlântico | Wesley Sá Teles Guerra

Foto de Elisa Michelet na Unsplash

Portugal tem uma ligação histórica intrínseca ao oceano Atlântico. Esta pequena nação ibérica, com imenso valor e coragem, foi a primeira nação europeia a desbravar os limites marinhos, transformando-se numa grande potência naval. As embarcações e navegantes portugueses marcaram a história de diferentes países e territórios em todo o globo, desde o Cabo da Boa Esperança até à Ilha de Formosa (Taiwan) ao gigante Brasil. Essas conquistas foram a origem do que conhecemos hoje como o Eixo Atlântico.

O Eixo Atlântico é constituído pelo intercâmbio comercial, fluxo de pessoas, relações políticas e de poder, além da concentração produtiva e de recursos entre um lado e o outro do oceano. Esse movimento começou com as grandes navegações e o sistema mercantilista entre as colônias e as metrópoles, atingindo seu auge durante a Revolução Industrial e a ascensão dos Estados Unidos, posteriormente com a Globalização e surgimento de novos atores internacionais e  a geração de novos fluxos comerciais e econômicos, o conceito se transformou em fato consolidado, além de um termo amplamente usado e estudado.

No entanto, a globalização e o surgimento de novos atores no cenário internacional além do Atlântico, levaram a uma expansão desse movimento, diminuindo gradualmente a influência do Eixo Atlântico. O surgimento de novos centros de poder e novas rotas comerciais, especialmente na Ásia, contribuiu para essa mudança. O Eixo Atlântico, outrora um concentrador de poder e fluxos comerciais, enfrenta agora a crescente importância do “Eixo do Pacífico”.

O Eixo do Pacífico, impulsionado pela criação de novos acordos de integração regional tais como a Aliança do Pacífico ou o Acordo Trans Pacífico de Cooperação Econômica, entre outros, está se estabelecendo como um novo centro de poder. Além do incremento da atividade chinesa em sua relação com os Estados Unidos e principalmente com os países da América Latina, substituindo as parcerias históricas da região, por novas, gerando rotas de escoamento, fluxos de investimento e novas cadeias produtivas direcionadas ao Eixo do Pacífico.

A crescente influência dos países asiáticos e o desenvolvimento de novos centros de consumo estão desafiando a primazia histórica do Atlântico. Nesse contexto, Portugal reconhece o valor estratégico do Atlântico e busca reafirmar a importância geopolítica dessa região, promovendo uma mudança em sua ação internacional.

O país luso, que sempre foi um importante aliado das nações lusofalantes, decidiu ampliar sua área de atuação a toda a América Latina e aos países de língua espanhola.

Por esse motivo, o Ministério de Negócios Estrangeiros de Portugal, representado pelo Camões I.P, realizou um acordo com a Secretaria Geral Iberoamericana, para a execução do chamado Fundo de Cooperação Triangular Portugal-América Latina e África, concedendo financiamento a uma série de projetos que participaram na primeira convocatória do Fundo de Cooperação Internacional, cujos memorandos de cooperação foram assinados em Lisboa.

Durante a cerimônia de apresentação dos vencedores da “I Convocatória de Projetos e Iniciativas de Cooperação Triangular entre a Ibero-América e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP)”, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, destacou a importância da cooperação entre a América Latina, África e a Península Ibérica para fortalecer a posição geopolítica do Atlântico. Segundo Rangel, essa colaboração é essencial para o desenvolvimento das comunidades ibero-americana e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), permitindo que o Atlântico rivalize com o Pacífico em termos de relevância global.

A convocatória, financiada pelo Governo de Portugal através do Fundo de Cooperação Triangular Portugal/América Latina/África e formalizada entre o Camões, I.P. e a Secretaria-Geral Iberoamericana, visa apoiar projetos focados no desenvolvimento de capacidades estratégicas e na troca de experiências em diversas áreas, como educação, saúde, igualdade de gênero, alterações climáticas, segurança alimentar, cultura, coesão social, transformação digital e educação para o desenvolvimento, reforçando a cooperação e participação de diferentes atores no eixo Atlântico.

Florbela Paraíba, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, ressaltou que esta iniciativa marca um ponto significativo na história portuguesa e das entidades representadas. Ela observou que os resultados do primeiro concurso demonstraram o sucesso e o interesse em aproximar essas regiões, com 370 propostas recebidas.

O secretário-geral Iberoamericano, Allamand, também enfatizou a importância da proximidade entre a América Latina e África, apontando Portugal como uma porta de entrada para a América Latina e destacando o papel crucial da língua portuguesa na coesão dessas regiões. Ele afirmou que esta iniciativa fortalece a comunidade iberoamericana e a projeção global de Portugal, incentivando o crescimento da cooperação triangular.

Portugal, ao reconhecer o valor estratégico do Atlântico, busca reafirmar a importância geopolítica dessa região. Através de iniciativas como a convocatória de projetos de cooperação triangular, o país está promovendo a colaboração entre a Europa, África e América Latina. Esta estratégia não apenas reforça os vínculos históricos e culturais, mas também promove o desenvolvimento sustentável e a prosperidade compartilhada, assegurando que o Atlântico continue a ser um eixo central de poder e influência global.

Wesley S.T Guerra

 

fotografia de Wesley Sá Teles Guerra.

Wesley Sá Teles Guerra, formado em Negociações Internacionais pelo Centre de Promoció Econômica del Prat de Llobregat (Barcelona), Bacharel em Administração pela Universidade Católica de Brasília, Pós-graduado em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Marketing Internacional pelo Massachussetts Institute of Business, MBA em Parcerias Globais pelo ILADEC, Mestrado em Políticas Sociais com especialização em Migrações pela Universidade de A Coruña (Espanha), Mestrado em Gestão e Planejamento de Cidades Inteligentes (Smartcities) pela Universitat Carlemany (Andorra) e doutorando em Sociologia e Mudanças da Sociedade Contemporânea Internacional. 

Atuou como paradiplomata e especialista em cooperação internacional e smartcities para a Agência de Competitividade da Catalunha (ACCIÖ – Generalitat de Catalunya), foi colaborador sócio do Instituto Galego de Análise e Documentação internacional (IGADI) e do Observatório Galego da Lusofonia (OGALUS) e participa como coordenador da área de Economia, Ciência e Tecnologia do CEDEPEM – UFF.

Idealizador e diretor do CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais, membro do Smart City Council, do IAPSS International Association for Political Sciences Studentes, do Consório Europeu para a Pesquisa Política, REDESS, Centro de Estratégia e Inteligência das Relações Internacionais e colaborador da ANAPRI.

Autor dos livros ”Cadernos de Paradiplomacia” (2021) e “Paradiplomacy Reviews” (2021) além de participar do livro “Experiências de Vanguarda, no ensino nos países lusófonos” publicado em 2021 pelo CLAEC e organizado pela Dra. Cristiane Pimentel. 

Professor, articulista e especialista: wesleysateles@hotmail.com

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