Poemas
Acreditas?
Vês as cidades que construímos no teu olhar?
Elas têm luzes gigantescas que inundam as estradas de medo
têm o raio de uma arma quente com que os padeiros fabricam o pão da morte
cheira ao jornal quente com que as verdades e fofocas cruzam a avenida da baixa da cidade
têm o aprumo que um Ferro quente consente ao uniforme das crianças para que possam ir à escola
e quantos verbos sobrecarregados construímos nos postes de luz que entrelaçam-se nos cabelos do país?!
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Fechadura (a Robert Mugabe)
As portas são a alma da casa
abrem-se ao amanhecer e fecham-se ao anoitecer
têm olhos que captam tudo e todos os que nela passam
pequenos céus e infernos formam-se ao cimo das portas
juízes de tribunais anunciam a sentença dos que entram e nelas saem
heróis e seus feitos são coroados do lado de fora das portas, dentro todos são iguais
e sentam-se ao chão e cantam como se todas as vozes afuniladas chamassem por um sol
há os que ainda choram pela injustiça acometida que não cabe na fechadura que abre o perdão
quarenta sois espreitam pelo soalho pedindo a extensão de mais um canto por iluminar
e a terra exaurida pela luz solar pede à lua que não se faça mais nenhum outro sol bojudo
entretanto, o amor e ódio cruzam as paredes da porta que não sabe com que sentimento se pinta a sua madeira
ainda que o amor tenha se confundido na podridão dos parafusos da porta há quem aperte-os para que se reconheça a sua tenacidade
não se luta pelo trono como se de lixo se tratasse na lixeira de Hulene vitimando um povo que mata a sede às lágrimas de sangue.
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Céu Nublado
Descargas atmosféricas
recaem em forma de raios sobre o verbo.
Ardem todos os livros e todos os seus leitores
ardem as saias e o bom-senso na avenida da noite
personagens de Dostoiévski fogem do livro, querem sobreviver.
Raskolnikov posiciona-se no seio da belíssima Eduardo Mondlane
exibe uma faca esplendente sobre a careca do nobre e querido arquitecto.
Eduardo faz a longa oração pedindo socorro diante de um homem armado.
As mulheres sorriem vituperando o pai, do que nutrem como grandioso afecto,
apenas se reserva ao homem que cheira a morte e ásperos perfumes da desgraça
elas deliram e deitam-se nas labaredas, dançam a dança da morte e crepitam sobre quem as vê
elas sonham em ser a fuligem da alma desalmada do personagem fugitivo que cresce no livro que não se lê.
Deusa d’África nasceu aos 05 de Julho de 1988 em Moçambique, é mestre em Contabilidade e Auditoria e actualmente é professora na Universidade Pedagógica e na Universidade Politécnica. É Gestora Financeira do Projecto Global Fund – Malária. Começou a escrever poesia em 1999. A autora é representada pela agência literária “Capítulo Oriental”. Possui várias obras (prosa e poesia) publicadas na imprensa como é o caso de “Jornal Notícias”, “O País”, “Pirâmide”, “Diário de Moçambique”, em revistas tais como “Xitende” e “Varal do Brasil”, foi antologiada pela “Colectânea Veríssimos” editada em 2012 por Alpas XXI, Antologia Brasileira “Mil Poemas para Gonçalves Dias” em 2013, pela Academia de Letras e Artes Luso – Suíça “Caravelas em Viagem” em 2016.
Viu alguns dos seus trabalhos traduzidos para sueco. É Coordenadora Geral da Associação Cultural Xitende, é palestrante, activista cultural, promotora do direito à leitura e mentora do projecto Círculo de leitores. É colunista do Jornal “Correio da Palavra”.
É autora de obras como “A Voz das Minhas Entranhas” (poesia) editado pelo Fundac em 2014, o romance “Equidade no Reino Celestial” e “Ao Encontro da Vida ou da Morte” (poesia) pela Editora de letras de Angola em 2016. Coordenou a Antologia poética “Vozes do Hiterland” publicando escritores de Gaza e Niassa, editada pela Editora de Letras de Angola em 2016. Em 2016 foi Coordenadora para Moçambique da Antologia editada em Galiza “Galiza-Moçambique: Numa Linguagem e Numa Sinfonia” sob coordenação geral do escritor José Estevez publicando escritores de Moçambique e Galiza.
Foi distinguida pelo Governo Provincial de Gaza como Personalidade do ano 2016 em reconhecimento do seu patriotismo e pela sua contribuição no desenvolvimento e promoção das artes e cultura. Foi premiada como vencedora absoluta na modalidade de poesia e foi vencedora do segundo lugar em contos nos Concursos Literários Internacionais lançados na República Federativa do Brasil por Alpas XXI em 2012. Em Março de 2017 representou Moçambique no Festival Literário de Macau. Em 2018 foi antologiada pelo Festival Literário de Macau “Seis em ponto, contos e outros escritos VI”, traduzido em inglês “Six on the dot, short stories and other writings VI” e depois traduzido em chinês. Ainda em 2017 foi antologiada em “À Margem da Literatura” pela UCCLA. Foi antologiada em Macau no “Rio das Pérolas” livro de poesia em 2019.
Em Julho de 2019 participou no Festival Internacional Poetas d´Alma em Maputo. Participou no primeiro encontro realizado em África e em Moçambique, de Poetas del Mundo em Outubro de 2019, como Embaixadora do Movimento Poetas del Mundo para Gaza. Foi antologiada em Macau no “Rio das Pérolas” livro de poesia em 2020.
Participou no encontro internacional “Poemas e Poetas de Macau” no dia 12 de Julho pela live no zoom, organizado pela fundação Rui Cunha, um poema na vila e amigos do livro de Macau. Ministrou a conferência sobre “Poesia e Feminismo” por meio de Live na rede social Instagram, aos 16 de Julho de 2020 contribuindo para as atividades do Grupo de Pesquisa MOZA (Moçambique e Africanidades), credenciado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB, Brasil) e certificado pelo CNPq ( Conselho Nacional de Pesquisa, Brasil).
Foi palestrante no ciclo de lives sobre literaturas africanas: LITERÀFRICA EM REDE com o tema “Deusa d´Africa: Vida e Obra” aos 30 de agosto de 2020. Participou no I Colóquio Internacional de Literatura “Baobá em Flor” em novembro de 2020, organizado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB, Brasil). Foi palestrante no ciclo de lives da Prof. Dra. Mauren com o tema “A escrita de Deusa d´Africa” no dia 03 de Marco de 2021. Tem feito palestras sobre a sua escrita e seus livros para com estudantes de universidades brasileiras.