Como, ao contrário do que pensam alguns, o homem não é naturalmente bom e torna-se mau porque corrompido pela sociedade, as polícias são necessárias para combater o crime e manter a segurança das pessoas, que é a garantia da sua liberdade.
Infelizmente, nem sempre isso sucede. Como garantes da segurança das pessoa e, consequentemente, da sua liberdade, as polícias deveriam ter uma formação sólida que lhe permitisse agir sempre em respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Mas isso não sucede. A formação da polícia concentra-se, sobretudo, na defesa da propriedade e na repressão e, mesmo esta, é levada a cabo de modo não a preservar a vida, mas a facilitar, quaisquer que sejam as consequências, a atividade repressiva. É por isso que os policias se encontram treinados, antes de mais, para a violência e não para o diálogo e a persuasão e equipados com armas de fogo que permitem reprimir através da morte e não com instrumentos não letais disponíveis, como os tasers.
Daí que, perante populações que vivem em situações explosivas de pobreza e de abandono pelo Estado e, por isso, propensas à revolta e ao crime que a ausência de perspetivas dignas de vida proporciona, a polícia não use a não ser a violência, muitas vezes letal.
Essas populações são, habitualmente, de minorias negras ou ciganas.
Foi o que sucedeu recentemente com uma pessoa que vive num bairro pobre e abandonado pelo Estado, e onde este só surge para reprimir, através da polícia.
Um homem negro, sem uma razão forte para isso, foi objeto de uma perseguição policial e, na sequência dessa perseguição, foi morto por um polícia.
Tudo o que está por detrás disso cabe ao tribunal apurar, nomeadamente as circunstâncias da morte. No entanto, pelas imagens que nos foi proporcionado ver, o polícia em causa não matou em legitima defesa pois a vítima não possuía qualquer arma que ameaçasse a vida do polícia nem essa arma alguma vez foi exibida.
Que o polícia tente defender-se do seu ato indiciariamente criminoso, é aceitável. Mas já não é aceitável que o comando geral da polícia venha mentir em defesa desse polícia dizendo que a vitima estava a tentar agredir, mortalmente, o quem matou.
Então já não apenas o agente que não cumpriu o seu dever, mas a instituição que está a violar os seus deveres, nomeadamente de respeito pela verdade e pela justiça. E isso é grave e justifica uma alteração no comando que foi pedida, mas não aceite pelo governo.
Se isso tivesse sido feito, talvez não tivessem ocorrido e continuem a ocorrer atos de violência e destruição que devem ser reprimidos e punidos, pois o direito à indignação e à revolta não pode confundir-se com vandalismo e crimes praticados contra pessoas, nomeadamente um simples condutor de autocarro, e bens públicos ou de gente que trabalhou arduamente para os conseguir, nomeadamente automóveis que serviam para pessoas humildes se deslocarem para o trabalho.
A forma como o vandalismo ocorreu em lugares dispersos faz suspeitar a existência de agentes provocadores que deve ser apurada pela justiça. Não podemos ignorar que aqueles que mais criticam o crime podem ser beneficiados com a ocorrência do crime.
A TRAGÉDIA DE MOÇAMBIQUE
Não podemos ficar indiferentes ao que se passa em Moçambique. A FRELIMO, partido que levou a cabo a luta pela independência, transformou-se, com o tempo, num partido que se apoderou do aparelho de Estado e da riqueza do país e o usa em proveito de uma clique cleptocrática e assassina. A miséria generalizada do povo contrasta com a opulência da classe dirigente. As eleições são apenas um modo de legitimar essa classe dirigente, e quem ousa contestar os seus resultados é violentamente reprimido ou, até, assassinado.
Moçambique é, hoje, governado por uma cleptocracia protofascista que deve ser denunciada.
HENRIQUE DÓRIA
BIOGRAFIA: É advogado e colaborou no Diário de Lisboa Juvenil e nas revista Vértice e Foro das Letras. Tem quatro livros de poesia e três de prosa publicados. É diretor da revista online incomunidade.com, e da radiotransforma.